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VACINAS: COMO FUNCIONAM, CALENDÁRIO E EFEITOS COLATERAIS

 

INTRODUÇÃO

A imunização através da vacinação é uma das formas mais efetivas de se prevenir doenças infecciosas graves e interromper epidemias. Graças a campanhas de vacinação bem sucedidas nas últimas décadas, doenças como poliomielite, varíola e sarampo praticamente não existem mais em diversos países.

As campanhas de vacinação existem há décadas em todos os países e são uma das principais medidas de saúde pública, responsáveis por salvar um número incontável de vidas.

COMO FUNCIONAM AS IMUNIZAÇÕES?

O objetivo das imunizações é estimular o organismo a produzir anticorpos contra determinados germes, principalmente bactérias e vírus. O nosso sistema imunológico cria anticorpos específicos sempre que entra em contato com algum germe. Se entramos em contato com o vírus da rubéola, por exemplo, ficamos doente apenas uma vez, pois o corpo produz anticorpos que impedem que o vírus volte a nos infectar no futuro.

A lógica da vacina é tentar estimular o organismo a produzir anticorpos sem que ele precise ter ficado doente antes. Tentamos apresentar ao sistema imune a bactéria ou vírus de forma que haja produção de anticorpos, mas sem o desenvolvimento da doença.

Geralmente, uma vacina age apenas contra um único germe. Por exemplo, a vacina contra o sarampo não protege o paciente contra catapora e vice-versa. Já existem, porém, vacinas conjuntas, que são na verdade duas ou mais vacinas dadas em uma única administração, como a vacina tríplice viral, que é composta por três vacinas em uma única injeção: sarampo, rubéola e caxumba. O sistema imune é estimulado simultaneamente contra esses três vírus. Nem toda vacina pode ser dada em conjunto.

TIPOS DE IMUNIZAÇÕES

A grande dificuldade na hora de desenvolver uma vacina é criá-la de modo que a bactéria ou vírus consigam estimular o sistema imunológico a criar anticorpos, mas não sejam capazes de provocar doença. Às vezes, basta expor o organismo à bactéria ou ao vírus mortos para haver produção de anticorpos e tornar o paciente imune ao germe. Entretanto, nem todos os vírus ou bactérias mortos são capazes de estimular o sistema imune, fazendo com que tenhamos que buscar outras soluções para imunizar o paciente.

O grau de maturidade do sistema imunológico também é importante. O ideal seria podermos dar logo todas as vacinas ao recém-nascido. Infelizmente isso não funciona. O nosso sistema imune precisa de tempo para se desenvolver e ser capaz de gerar anticorpos quando estimulados pela vacinação.

Vacinas com vírus ou bactérias inativadas

As vacinas inativadas são aquelas feitas com germes mortos ou apenas partes do germe. As vacinas com germes mortos são as mais seguras, porém costumam apresentar uma capacidade de imunização mais baixa, sendo necessárias mais de uma dose para criar uma proteção prolongada. Em alguns casos a imunização desaparece após alguns anos, sendo necessária a aplicação de doses de reforço.

Muitas vezes não é preciso expor o sistema imune a todo vírus ou bactéria. O germe pode ser cultivado em laboratório e partes da sua estrutura que não são necessárias para criação de anticorpos podem ser retiradas. Em alguns casos, uma única proteína do germe é tão diferente das nossas proteínas que é suficiente para o sistema imunológico reconhecê-la como algo estranho, produzindo anticorpos eficientes contra o invasor. As vacinas com subunidades dos germes costumam ter entre 1 a 20 partes do mesmo.

Exemplos de vacinas com vírus ou bactérias inativos:

Exemplos de vacinas com uma ou mais partes dos germe:

Vacinas com vírus vivos atenuadas

O ideal é sempre criarmos vacinas com germes mortos, incapazes de causar doenças. Todavia, nem sempre isso é possível. Há casos em que não conseguimos induzir a produção de anticorpos pelo sistema imune a não ser que o mesmo seja exposto ao germe vivo. Neste caso, a opção é manter o vírus ou bactérias vivos, mas atenuados, ou seja, fracos o suficiente para não conseguirem causar sintomas relevantes.

As vacinas com germes vivos são seguras em pacientes sadios, mas não devem ser dadas a pessoas com deficiências no sistema imune, como transplantados, pacientes com AIDS,  pacientes em uso de drogas imunossupressoras, ou paciente em quimioterapia. Este grupo apresenta elevado risco de desenvolver a doença se tomarem a vacina.

As grávidas também não podem tomar vacinas com vírus vivos pois há riscos de infecção do feto e complicações da gestação. Falaremos especificamente sobre a vacinação durante a gravidez em um artigo à parte, que será escrito nas próximas semanas.

Como as vacinas com germes vivos são o que há de mais próximo com um infecção real, elas costumam ser os melhores estimulantes para a produção de anticorpos pelo sistema imune. Este tipo de vacina costuma requerer apenas uma ou duas doses e produz uma imunização por muitos anos, às vezes para o resto da vida.

Vacinas com vírus vivos atenuados são mais fáceis de serem produzidas do que com bactérias, que são germes bem mais complexos e difíceis de serem manipulados.

Exemplos de vacinas com bactérias ou vírus vivos atenuados:

Toxoides

Algumas vezes o que causa doença não é a bactéria em si, mas sim algumas toxinas que a mesma produz. Neste caso, a vacina não precisa ser direcionada contra a bactéria, basta que o sistema imune consiga ter anticorpos contra as toxinas. Os toxoides são vacinas feitas com toxinas modificadas, incapazes de causar doença.

Os toxoides também costuma gerar uma imunização fraca, necessitando de reforço após alguns anos.

Exemplos de vacinas com toxoides:

Imunoglobulinas 

As imunoglobulinas são um tipo de imunização diferente das vacinas. As vacinas são chamadas de imunização ativa, pois induzem o sistema imune a produzir anticorpos. As imunoglobulinas são chamadas de imunização passiva, pois elas próprias já são os anticorpos.

Quando exposto a determinado germe, o sistema imune pode levar algumas semanas para produzir anticorpos em quantidade adequada para combatê-lo. Em alguns casos, a doença é tão agressiva que não temos tempo de esperar a produção destes anticorpos. Daí surge a necessidade de usarmos as imunoglobulinas, que são uma coleção de anticorpos previamente formados por outras pessoas ou animais. Pegamos anticorpos já formados por outros e administramos no paciente, havendo imediato combate à infecção.

As imunoglobulinas causam uma imunização curta, suficiente apenas para tratar a infecção. O paciente não fica imunizado por tempo prolongado, sendo necessária a administração de uma vacina após o controle da doença. Por exemplo, um profissional de saúde não vacinado contra a hepatite B que acidentalmente se fure com uma agulha infectada precisa tomar a imunoglobulina e a vacina para não se infectar. A imunoglobulina impedirá a infecção atual enquanto que a vacina servirá, neste caso particular, apenas para preveni-lo de futuras contaminações.

Exemplos de doenças que podem ser tratadas com imunoglobulinas (anticorpos):

POR QUE NÃO EXISTEM VACINAS CONTRA HIV E OUTRAS INFECÇÕES?

Nem sempre conseguimos manipular o nosso sistema imune adequadamente. Há vários germes que naturalmente são menos estimulantes ao nosso sistema imunológico. Alguns vírus rapidamente se “escondem” dentro de pontos do nosso organismo, impedindo que o sistema imune os reconheça.

No caso da vacina contra o HIV há alguns pontos importantes. O vírus morto não parece ser capaz de estimular o sistema imune. Por outro lado, a vacinação com vírus vivo é perigosa, pois não se trata de uma infecção benigna, como a catapora ou rubéola. Para se ter uma vacina com o vírus HIV vivo é preciso antes ter plena certeza que não iremos infectar o paciente em vez de ajudá-lo a criar anticorpos. Temos que descobrir um modo de atenuar o HIV de modo que este seja incapaz de causar doença, mas capaz de induzir a criação de anticorpos. A maioria das pequisas hoje não são feitas com o HIV vivo.

O modo que o vírus HIV age também dificulta a produção de vacinas. O vírus se esconde dentro das próprias células do sistema imune, tornando difícil para o organismo produzir anticorpos efetivos contra o mesmo. Além disso, o HIV sofre mutação de modo muito rápido, podendo o vírus ter proteínas diferentes entre duas pessoas infectadas. É preciso identificar uma proteína que seja comum a todos os vírus e que também consiga estimular a produção de anticorpos pelo sistema imune.

TOMAR A MESMA VACINA MAIS DE UMA VEZ FAZ MAL?

Muitas pessoas ficam confusas quando perdem o cartão de vacinação, pois têm medo de tomar uma vacina que já tenha sido administrada no passado. Não há nenhum problema em repetir vacinas. Muitas delas, aliás, precisam ser reforçadas de tempos em tempos, como as vacinas para tétano, febre amarela e difteria, que perdem efeito após 10 anos.

Se houver dúvida quanto a imunização prévia em relação a uma doença, o melhor é vacinar. Se o paciente já tiver tomado a vacina anteriormente, isso não fará mal. Pior é deixar o paciente não imunizado e exposto à infecção.

O único cuidado que se deve ter é não administrar a mesma vacina com intervalos de poucos dias, principalmente se for vacina com germes vivos, pois não há aumento da eficácia e o risco de efeitos colaterais fica muito elevado.

CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO – BRASIL 2019

IdadeVacinas
Ao nascer» BCG ( Vacina contra a tuberculose ) – dose única.
» Vacina contra a hepatite B 1ª dose
2 meses» Pentavalente (Tetravalente* 1ª dose + Hepatite B 2ª
dose) .
» Poliomielite 1ª dose (VIP).
» Pneumocócica conjugada 1ª dose.
» Rotavírus 1ª dose.
3 meses» Meningocócica C conjugada 1ª dose.
4 meses» Pentavalente (Tetravalente 2ª dose + Hepatite B 3ª
dose).
» Poliomielite 2ª dose (VIP).
» Pneumocócica conjugada 2ª dose.
» Rotavírus 2ª dose.
5 meses» Meningocócica C conjugada 2ª dose.
6 meses» Pentavalente (Tetravalente 3ª dose + Hepatite B 4ª
dose).
» Poliomielite 3ª dose (VIP).
» Influenza (1 ou 2 doses anuais).**
9 meses» Febre Amarela (dose única).***
12 meses» Pneumocócica conjugada – reforço
» Meningocócica C conjugada – reforço
» Tríplice Viral **** 1ª dose
15 meses» DTP 1º reforço (incluída na pentavalente)
» Poliomielite 1º reforço (VOP)
» Hepatite A (1 dose de 15 meses até 5 anos)
» Tetra viral (Tríplice Viral 2ª dose + Varicela)
4 anos» DTP 2º reforço (incluída na pentavalente)
» Poliomielite 2º reforço (VOP)– Varicela (1 dose)
Influenza (1 ou 2 doses anuais)
9-14 anos» HPV 2 doses*****
» Meningocócica C (reforço ou dose única)
Adolescentes, adultos e idosos» Hepatite B (3 doses a depender da situação vacinal)
» Febre Amarela (dose única p/ não vacinados ou sem
comprovante de vacinação)
» Tríplice Viral (2 doses até os 29 anos ou 1 dose em maiores de 30 anos. Idade máxima: 49 anos)
» DT (Reforço a cada 10 anos)
» dTpa (para gestantes a partir da 20ª semana, que
perderam a oportunidade de serem vacinadas)

*Vacina tetravalente: vacina contra difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae tipo b.

**Influenza: é ofertada durante a Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza, conforme os grupos prioritários definidos no Informe da Campanha. Para as crianças não indígenas de 6 meses a menores de seis anos de idade (cinco anos, 11 meses e 29 dias) e para as crianças indígenas de seis meses a oito anos, que estarão recebendo a vacina pela primeira vez, deverão receber duas doses.

*** Febre Amarela: indicada às pessoas residentes ou viajantes para as áreas com recomendação de vacinação. Atentar às precauções e contraindicações para vacinação. Esta vacina está indicada para todos os povos indígenas independente da Área com Recomendação para Vacinação (ACRV)

****Tríplice viral: sarampo, caxumba e rubéola.

*****HPV: a vacina HPV também está disponível para as mulheres e homens de nove a 26 anos de idade vivendo com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea e pacientes oncológicos, sendo o esquema vacinal de três doses (0, 2 e 6 meses).

Vacinação de adultos e idosos

  • dT (Dupla tipo adulto) – Contra Difteria e Tétano – Reforço a cada 10 anos.
  • Vacina contra febre amarela – Reforço a cada 10 anos se morar em área de risco. Se viajar para áreas de risco, vacinar contra Febre Amarela 10 (dez) dias antes da viagem.
  • Vacina Contra Hepatite B (em não imunizados durante a infância) – 3 doses (2ª dose 2 meses depois e 3ª dose 6 meses após a primeira).
  • Influenza – vacina contra a gripe – Anualmente após os 60 anos.
  • Anti-Pneumococo (23 sorotipos) – pneumonia – Dose única em maiores de 60 anos. Reforço após 5 anos.

PACIENTES ALÉRGICOS AOS COMPONENTES DAS VACINAS

Algumas pessoas têm alergia a alguns componentes das principais vacinas. É importante realçar que pequenas reações como dor, febre baixa e mal estar após as vacinas, não são consideradas graves e não contraindicam posteriores reforços vacinais.

Casos especiais que devem ser consultados por alergologista antes das vacinações para se avaliar a gravidade da reação alérgica. São eles:

Pessoas com alergia grave a ovo podem apresentar reações às seguintes vacinas:

  • Influenza
  • Febre amarela
  • MMR ou SRC (tríplice viral) – Sarampo, rubéola e caxumba

Pessoas com alergia a gelatina podem apresentar reações às vacinas contra:

  • Influenza
  • Febre amarela
  • MMR ou SRC (tríplice viral) – Sarampo, rubéola e caxumba
  • Raiva
  • Varicela
  • DTP (tríplice bacteriana) – Difteria, tétano e coqueluche

NÃO SÃO CONTRAINDICAÇÕES A VACINAÇÃO

  • Doenças benignas com febre inferior a 38,5ºC, tais como diarreia e infecções respiratórias.
  • Doenças neurológicas não evolutivas, como a Síndrome de Down e a paralisia cerebral.
  • Doenças crônicas cardiovasculares, pulmonares, renais e hepáticas
  • Diabetes.
  • Dermatoses, eczemas ou infecções cutâneas localizadas.
  • Reações localizadas, ligeiras ou moderadas, após vacinação prévia
  • Terapêutica com antibióticos, corticosteroides (até 20 mg por dia) e esteroides tópicos.
  • Antecedentes familiares e pessoais de alergia à penicilina, rinite alérgica, febre dos fenos, asma e outras manifestações atópicas.
  • História familiar de complicações e reações graves pós-vacinais.
  • Antecedentes familiares de convulsões.
  • Períodos de convalescença das doenças.
  • Períodos de incubação de doenças infecciosas.
  • Gravidez da mãe ou de outros contatos.
  • Prematuridade e baixo peso ao nascer.
  • História de icterícia neonatal.
  • Aleitamento materno.
  • Gravidez (para as vacinas inativadas).

É importante respeitar as doses e período de intervalo entre as vacinas. Em 2008, durante um surto de Febre Amarela em algumas regiões do Brasil, houve uma histeria coletiva, estimulada por uma cobertura sensacionalista da imprensa que levou a população a tomar vacinas de modo equivocado. Além de casos de pessoas que tomaram a vacina mais de uma vez, houve inclusive a morte por febre amarela vacinal de uma paciente que apresentava contraindicação formal a vacina (usava imunossupressores devido a um quadro de lúpus).

As vacinas devem ser tomadas de acordo com o calendário oficial ou em campanhas organizadas pelo ministério da saúde.

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